18 de out. de 2012

História sem nome-san Capítulo 19


Capítulo 19

Uma pequena visão da casa dos Sawada

     A Flávia andava tão distante de mim ultimamente, ou talvez seja apenas eu que tenha me afastado, estava na cozinha fazendo o jantar para o meu pai, Kiriko, minha loba branca, estava tentando tomar a comida das minhas mãos, eu realmente gostava dela, mas ás vezes isso me irritava por que ela não podia ser simplesmente igual ao Lambo, meu lobo de pelagem negra que estava deitado a um canto, dormindo, ele era tão menos agitado que Kiriko.
      – Calma! Calma! – disse enfim perdendo a paciência com Kiriko – Eu já vou buscar sua carne, mas essa é do papai ok?
      Eu andava realmente preocupada com o sangue de unicórnio, queria poder dividir com alguém meu medo sobre o que aquilo poderia ser usado, mas a Flávia, minha amiga mais próxima simplesmente tinha a cabeça cheia demais para se preocupar com aquilo, eu até entendia, de um dia para o outro ela se tornara o centro do mundo, a criação e a destruição em pessoa, e várias criaturas apareceram para ela, não podia incomodá-la com algo como meu problema com os unicórnios, suava quase infantil perto do dela.
     Cheguei a mesa do jantar, meu pai me encarou, tinha os cabelos castanhos e curtos, os olhos azuis profundos e cansados das batalhas, e um corpo acima do peso, mas mesmo que ás vezes fosse duro e não me deixasse fazer o que eu queria era o pai mais gentil do mundo. Mas hoje seus olhos estavam carregados de preocupação.
     – O que foi Otou-san? – perguntei.
     – Hoje fazem dois anos... – meu pai parecia tão triste por dizer aquilo – Okami, eles não vão mais voltar.
      Ao ouvir meu pai dizer isso a ficha caiu, meus olhos se encheram de lágrimas, eles iam voltar, com certeza iam!
      – Claro que vão! – mesmo sem querer alterei meu tom de voz – A Okaa-san e o Nii-chan são muito, muito fortes, eles... – as palavras saiam com mais dificuldade pelas lágrimas, mas toda vez que me lembrava do meu irmão e da minha mãe era quase inevitável não chorar – com certeza eles... vão voltar!
       O silêncio que ficou entre mim e meu pai foi quebrado pela campainha, quem seria uma hora daquela? Provavelmente a Flávia, mas esse pensamento me deixava preocupada, será que havia acontecido algo com ela?!
       Abri a porta e vi um garoto de olhos azuis, eram mais alto e mais velho que eu, seus cabelos eram vermelhos, e lindos! Aquele era... era...
       – Nii-chan!!! – gritei pulando em cima dele, as lágrimas voltaram a cair, mas agora eu estava sendo invadida de pura alegria, meu irmão, meu irmão estava em casa!
       Meu pai logo veio ver o porquê da barulheira, seus olhos se encheram de lágrimas assim como os meus e ele correu em direção ao meu irmão.
       – Sanji... Sanji... é-é você? Você...
       – Otou-san, Okami-chan. Tadaima! – disse Sanji com um sorriso no rosto.
       – Okaeri! – disse com um sorriso de orelha a orelha.
       Assim que Sanji entrou olhei porta afora, esperava ver a mulher dos cabelos vermelhos e longos, olhos castanhos, minha mãe, mas não havia mais ninguém atrás do Sanji. Enquanto olhava porta afora senti uma mão em meu ombro, olhei para Sanji que acenou tristemente em negativo. Ele sobrevivera... minha mãe não!
       O jantar passou, eu tinha tantas perguntas paro o Sanji, mas ele respondeu todas com calme e alegria, era o meu irmão de sempre, alegre, espontâneo, brincalhão e divertido. Eu me lembrei de quando éramos mais novos, quando ainda morávamos em Portugal e ele ficava cantando a Flávia, era tão engraçado ver a cara dela de surpresa, lembrar dos biscoitos da minha mãe, das broncas do meu pai quando eu, a Flávia, o Sanji e a Jéssica fugíamos a noite para ver as estrelas do morro que havia perto das nossas casas. Aquelas lembranças eram tão coloridas, tão divertidas, mas com aquele clima tenso, coma a morte da minha mãe, aquelas lembranças ganhavam um ar tão triste, tão nostálgico.

       Fui para a cama algumas horas mais tarde, mas não conseguia dormir, Kiriko e Lambo pareciam sentir minha tristeza, pois subiram em minha cama e se enrolaram e mim, como se me protegessem, abracei ambos com força, mas a dor não passava, provavelmente nunca iria passar.
       Doía lembrar da minha mãe, saber que nunca mais ia vê-la, doía ter esperado dois anos para receber a notícia de sua morte, mas principalmente, doía saber que a culpa era minha!

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