Capitulo 14
O trem que vai a lugar nenhum
Havia uma
estação de trem, era ajeitada tinha bastante placas para nos ajudar, trens
vinham e iam a toda hora, corriam apressados e eu sequer sabia seus destinos.
Havia uma menina na plataforma de embarque, várias pessoas amontoadas ao lado
dela, mas aquelas menina... aquela menina tinha algo que se destaca, era
normal, tinha cabelos bem curtos e castanhos, olhos cinzas perdidos, não olhava
para lugar algum, olhava reto, como se estivesse hipnotizada, tinha um vestido
azul bem simples e uma pequena bolsa em mãos. Eu conhecia aquela menina, ela
era... ela era eu! Quando tinha dez anos!
Aquela
estação, aqueles trens, foram ali que minhas memórias se perderam, fora ali o
início de tudo, não me lembrava de mais nada antes daquele dia. Mas não era
como os sonhos que sempre tive, em que estava em primeira pessoa, hoje parecia
apenas uma expectadora, via de longe sem ninguém me ver.
A garota
olhou para o lado, sua cabeça se mexia devagar, como se estivesse aprendendo a
mexe-la, e ficou observando algo. Eu sabia o que era, naquele dia, me lembro,
um garoto ia embora perto ao um moço adulto, não conhecia nenhum dos dois, mas
fiquei os encarando ir embora naquela estação, só Deus sabe o porquê.
Mais trens
iam mais trens vinham e eu não sabia aonde ir, não sabia qual deles pegar, as
pessoas á volta da menina desciam e subiam, apressadas, atrasadas. A menina
tremia de frio, parecia prestes a congelar, não parecia habituada ao clima de
onde estava, encolhida, buscava o máximo de calor.
Olhava os
trens, mas sequer os via, não sabia qual deles pegar, não sabia se devia pegar algum, afinal, para onde
os trens a levariam? Ela não tinha lugar para ir, sequer sabia direito quem
era, todo e qualquer trem lhe levaria ao mesmo lugar: lugar nenhum. Quem não
tem onde ficar nunca pode ir para algum lugar, era isso que ela pensava, mas
também não saia dali, não tinha nada á fazer.
Algo do outro
lado chamou a atenção da menina, um garota um pouco mais alta que ela, de
lindos cabelos ondulados e loiros e olhos cinzas gritou:
– Mamãe,
papai, ali! – a menina apontava para mim, para a garotinha na estação do trem.
Correu em sua
direção, guiando a mãe pela mão, parou a frente da menina perdida e perguntou
gentilmente:
– Quem é você?
De onde é? Parece perdida.
– Flávia –
respondi.
– Hum... e de
onde é?
– Não sei.
– Quem são
seus pais?
– Não sei.
– Para onde
quer ir?
– Não sei,
lugar nenhum.
A garota loira
franziu a testa e olhou para os pais. A mãe da menina que tinha cabelos
igualmente loiros, olhos verdes e um corpo acima do peso, sorriu e afagou meus
cabelos.
– Pobre menina
–comentou em tom doce – deve ser órfã Lincon, vamos leva-la para casa, ela não
parece bem.
O marido da
mulher fez que sim, e colocou a mão no ombro me guiando para uma plataforma
pouco mais a frente. Me lembro de não querer ir, provavelmente por medo do que
me esperava, mas não tinha forças para resistir a nada e o frio me castigava.
Olhei para trás novamente, na esperança de ver o garoto, eu não sabia o porquê,
mas havia gostado dele, foi em vão, no fim da plataforma, não via mais nada.
E assim
peguei um trem, para começar uma nova vida, que mal sabia eu, iria gostar!
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