Capitulo 12
O mais longo dia
Eu não
compreendia mais nada, só queria entender, tudo estava tão confuso, minha
cabeça dava voltas. Não sabia se haviam se passados horas ou segundos, alguém
bateu a minha porta, sem olhar e sem me importar mandei que entrasse.
Era minha
irmã de novo, junto dela estava o Hayato, a Yumi e a Carolina, na mão da minha
irmã estava uma pequena barra de chocolate, ela sabia que chocolate me fazia
bem quando eu estava triste.
– Vamos ter
ensaio da banda, e queremos que venha assistir – disse Jéssica bagunçando meu
cabelo, e dando um sorriso irônico, continuou – e só porque hoje você está
“cansada” – ela fez aspas no ar – vou deixar você escolher nossa primeira
música do ensaio.
Não que eu
estivesse recuperada, mas todos eles na minha frente, tentando me fazer sentir
melhor me fizeram sorrir e levantar enérgica da cama:
– Please take
me Home! – disse contente o nome da musica que queriam que eles tocassem.
– Não,
sério mesmo, acho que o Blink 182 fez uma lavagem cerebral na cabeça dessa
menina, ela só consegue pensar neles! – afirmou brincalhona Yumi, que me deu um
peteleco na cabeça.
Ouvir minha
irmã cantando me dava força, e a guitarra, o baixo e a bateria me davam vida,
pela primeira vez naquele dia, eu não me senti... sozinha! Depois de terminados
os ensaios, fomos todos tomar um milk shake em uma sorveteria próxima de casa.
Ao chegar lá, nos sentamos na primeira mesa, e eu fiquei virada para rua,
gostava de ver o movimento na rua, pessoas iam, pessoas vinham.
Enquanto
Hayato fazia os pedidos e Jéssica, Yumi e Carolina conversavam sobre a escola e
a vida delas – por mais que elas tentassem ser legais e perguntar sobre minha
vida, escola e etc. tentando me manter na conversa, não tinha jeito, então era
melhor eu olhar a rua - . Estava querendo escurecer, o horizonte estava
vermelho vivo, o que me dava calafrios, havia poucas pessoas na rua, e de vez
em quando carros passavam de lá para cá, com seus motoristas preguiçosos,
voltando para casa depois de um longo dia de trabalho. Era tão estranho
imaginar que a vida pudesse ser tão comum para todos, e para mim tão
complicada, afinal, quem eu era? Ou melhor, o
que eu era?
Um garoto em
particular me chamou atenção, ele era alto e trazia debaixo dos braços muitos
livros, usava óculos e parecia bem preocupado, olhava para os lado como se
procurasse alguém. Uma hora ele olhou para mim, e quase deixou os livros
caírem, pareceu perplexo em me ver, mexeu a cabeça em um movimento impaciente,
como se despertasse e voltou a andar apressado.
– Flavinha! –
disse Hayato estralando os dedos ao meu ouvido.
Olhei
distraída para ele, e ele sorriu de um modo malicioso, se sentando entre mim e
a minha irmã.
– Se
interessou pelo garoto Flavinha? – perguntou ele rindo.
– C-claro que
não! – disse irritada, e não era mentira, aquele garoto apenas tinha me perturbado
um pouco, apesar de eu conseguir sentir, que ele escondia mais do que
aparentava.
– Ai, ai,
para de perturbar a menina. E vamos tomar nosso milk shake! Flávia-chan, depois
poderia ter uma palavrinha com você? – disse Carolina, e apesar do sorriso que
carregava, senti que estava tensa.
– Pode sim,
claro que pode.
Yumi e
Carolina se entre olharam, e eu senti que algo estava acontecendo, algo sério.
Depois do
milk shake, Hayato foi para casa dele, e Jéssica foi na frente para a nossa
casa, apesar dela insistir que gostaria de me acompanhar, Carolina e Yumi
fizeram questão de que ficássemos a sós.
– Querida, nós
conhecemos a Any-chan, e sabemos que se encontrou com ela – começou Carolina
colocando a mão nos meu ombros. Aquilo realmente me surpreendeu, mas antes que
eu pudesse dizer algo, ela continuou: - eu sei que deve ser difícil aceitar
tudo que você é. Escute, eu realmente não queria te dizer isso, mas você agora,
mais do que nunca, tem que ser forte, você é a chave de tudo e não pode ficar
por ai triste, entende? Any-chan não te contou tudo de uma vez por medo de você
não aceitar, ela queria ir te contendo aos poucos... mas... – Carolina perdeu a
voz.
– As coisas
deixaram de ser um joguinho de criança! – Yumi continuou por Carolina, sua voz,
ainda que gentil, soava firme. – O mundo está para entrar em guerra, e nem
sequer sabemos quem está por trás disso, portanto não confie em ninguém! Nesse
momento todas as criaturas mágicas estão atrás de você, sejam para te proteger
ou para te matar!
– M-m-mas por
quê? – foi tudo o que consegui gaguejar.
– Mas do que
sangue de ciclope, mais do que coração de unicórnio, você sabe o que possui
aqui? – disse Yumi colocando dois dedos na minha testa.
Eu sabia! Ou
pelo menos achava que sim. Desde nova eu tinha fortes dores de cabeça, e quando
fui ao médico e eles tiraram uma chapa, descobriram que eu tinha algo
indefinido lá, só sabiam que aquele negócio parecia prestes a explodir,
portanto não me deram mais de dez anos de vida, isso fazia apenas quatro anos,
mas eu preferia não pensar nisso, preferia não lembrar que eu tinha uma data de
validade.
– Isso não é um
cisto – disse Carolina mexendo no meu cabelo – isso é o coração do mundo!
Ao ver minha
completa cara de “han?” Carolina riu, mas Yumi parecia mais séria que nunca, e
lançando um olhar de repreensão em Carolina, continuou:
– No centro do
mundo, onde só há lava e fogo, existe um coração, algo bem pequeno, que nutre
todo o mundo, foi dele que tudo surgiu, deste pequeno “cisto” que você tem na
cabeça. Mas assim como ele supre o mundo humano, supre o mundo místico de toda
sua magia.
Elas
resolveram parar por ai, disseram-me algumas palavras de apoio e força as quais
eu não me lembro, só lembro-me de tê-las ouvido dizer que estariam ao meu lado
no que eu precisasse, e sempre, é, elas eram realmente boas amigas, mas no
momento, nem elas podiam me fazer sentir melhor!
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