18 de out. de 2012

História sem nome-san Capítulo 23


Capítulo 23

O centro do mundo me manda uma mensagem

     O dia seguinte chegou! Eu me arrastei até a escola, Thomas tinha faltado, Okami disse que seu irmão queria sair comigo, dar uma volta e eu marquei para o fim de semana, quando não teria treino, ainda era terça, mas eu estava realmente entusiasmada para ver o Sanji, fazia tanto tempo que ele se fora para aquela guerra...
       Estavam acontecendo tantas coisas ao mesmo tempo, eu me perguntava se seria capaz de lidar com todas. Eu? Que tinha dificuldade de lidar com Pitágoras? É... a resposta era óbvia, não!
       Encontrei com a Rafaela na escola, ela estava na minha sala, era uma garota bem legal, animada, brincalhona, mas havia algo de muito obscuro nela, e eu me atrevia a dizer que havia muito mais idade naqueles 15 anos. Ela sabia tudo que os professores passavam, não ficava exibindo seu conhecimento, mas anotava tudo e um pouco mais, além de ser a primeira a responder as perguntas. Se para ser forte eu precisava ser tão inteligente quanto ela, eu estava ferrada!
        A manhã se foi e eu me despedi de Okami, avisei a Nídia que não iria mais embora com ela, mas ela não se magoou, seguiu seu caminho, assim eu, Mel e Rafaela seguimos até o monte onde John nos esperava deitado na grama, ok, ele era realmente lindo! Seus cabelos loiros desbotados e despenteados dançavam no chão e suas mãos brincavam inocentemente com um dente de leão, cada vez que o vento soprava um pouco do leão voava por aí.
        Ele levantou ajeitando a camiseta e sorrindo, jogou no chão o que restava do dente de leão e nos cumprimentou.
        O treino foi ainda pior, como começar a treinar pelo corpo não havia dado certo no primeiro dia, Rafaela tentou partir para o lado psíquico, sentei na grama, passava minha mão nervosamente por ela, enquanto Rafaela me encarava, aquilo me deixava tensa, seus olhos eram penetrantes, ela me disse umas palavras que eu não entendi, talvez fosse latim, ou talvez fosse japonês, mas eu estivesse entretida demais em me preocupar e pouco entretida em me concentrar no que ela falava.
      Só sei que do nada uma dor atingiu meu cérebro, não havia vozes, não havia Rafaela, John ou Mel, apenas o vazio, alguém segurava minha mão, mas isso era impossível porque eu estava deitada, sozinha, no escuro, com as mãos na cabeça, torcendo para a dor passar, eu via pessoas, meus pais, minha irmã, meus amigos e monstros que eu imaginava como meus inimigos, todos eles apenas caminhavam, eu via os trens... Ah! Os trens! Iam e vinham apressados, qual deles eu devia pegar? Acho que nunca descobriria.
       Estava conseguindo controlar melhor a dor, ou ela apenas estava passando, eu não saberia dizer, me levantei e comecei a reparar mais nas pessoas e monstros que passavam, nenhum tinha um rumo, iam e voltavam, sumiam naquela escuridão, todos me ignoravam, havia bem no fundo uma luz, era a primeira vez que reparei nela, brilhava com intensidade, eu não entendia como não me cegava, mas incrivelmente eu consegui me aproximar, na verdade aquela luz vinha de um pequeno cubo dourado, tinha coisas escritas, mas eu não conseguia ler. Eu o toquei e ele bateu na minha mão, como se repreendesse meu gesto.
      Aquilo não era... não podia ser... o centro do mundo? O cisto na minha cabeça era aquele cubo?!  Tentei pega-lo na mão, mas ele me queimou, soltei-o de imediato, minhas mãos ainda brilhavam, doía, era uma dor angustiante, caí no chão, lágrimas involuntárias, escorreram pelo meu rosto, minha mão queimava, muito, a dor na minha cabeça aumentou, é como se meu corpo estivesse se desfazendo de dentro para fora, eu jurei que iria morrer, eu cheguei a querer morrer, a morte acabaria com aquela dor, certo? Isso era tudo que importava.
       Abri os olhos, mesmo sem perceber que os havia fechado, havia uma grama gelada abaixo de mim, e um sol quente acima, Rafaela estava segurando forte nas minhas mãos, mas sua expressão deixava claro que ela havia sentido ao menos um pouco da dor que eu senti, nossas mãos soavam, Mel tinha as mãos pousadas sobre meus ombros e John me olhava com preocupação.
        – O que você viu? – Rafaela foi a primeira a cortar o silêncio.
        – Tudo escuro, pessoas que eu conheço, pessoas que eu imagino, trens, um cubo, o centro do mundo... dor, muita, muita, dor. Eu não quero mais sentir essa dor, nunca, nunca mais – eu tremia, não acho que minhas frases faziam algum sentido, mas não precisavam.
         Mel me abraçou, mesmo eu estando suada, não havia vestígio de que eu houvesse chorado, isso era bom.
         – Você estava normal, até que começou a gritar, começou a implorar que lhe matassem, implorou para a dor parar, eu estava tão preocupada!
         Minhas mãos se soltaram das de Rafaela para eu poder abraçar Mel, meus movimentos eram lentos, como se eu estivesse reaprendendo a viver sem a dor. Mas antes que minhas mãos atingissem o objetivo, John as pegou com cuidado, mas com uma pressa um pouco incômoda. Mel se afastou de imediato e, em poucos segundos, todos estavam olhando minha mão. Não entendi o porquê até me aproximar, minha mão tinha sangue seco, como se ela tivesse sangrado muito a algumas horas atrás, também haviam cicatrizes semifechadas,  mas o pior de tudo é que não eram cicatrizes aleatórias, naqueles traços irregulares se lia nitidamente em meio ao sangue.
          Isso é tudo que eu vou te dar

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