Capítulo 23
O centro do mundo me manda uma mensagem
O dia seguinte
chegou! Eu me arrastei até a escola, Thomas tinha faltado, Okami disse que seu
irmão queria sair comigo, dar uma volta e eu marquei para o fim de semana,
quando não teria treino, ainda era terça, mas eu estava realmente entusiasmada
para ver o Sanji, fazia tanto tempo que ele se fora para aquela guerra...
Estavam
acontecendo tantas coisas ao mesmo tempo, eu me perguntava se seria capaz de
lidar com todas. Eu? Que tinha dificuldade de lidar com Pitágoras? É... a
resposta era óbvia, não!
Encontrei
com a Rafaela na escola, ela estava na minha sala, era uma garota bem legal,
animada, brincalhona, mas havia algo de muito obscuro nela, e eu me atrevia a
dizer que havia muito mais idade naqueles 15 anos. Ela sabia tudo que os
professores passavam, não ficava exibindo seu conhecimento, mas anotava tudo e
um pouco mais, além de ser a primeira a responder as perguntas. Se para ser
forte eu precisava ser tão inteligente quanto ela, eu estava ferrada!
A manhã se
foi e eu me despedi de Okami, avisei a Nídia que não iria mais embora com ela,
mas ela não se magoou, seguiu seu caminho, assim eu, Mel e Rafaela seguimos até
o monte onde John nos esperava deitado na grama, ok, ele era realmente lindo!
Seus cabelos loiros desbotados e despenteados dançavam no chão e suas mãos
brincavam inocentemente com um dente de leão, cada vez que o vento soprava um
pouco do leão voava por aí.
Ele
levantou ajeitando a camiseta e sorrindo, jogou no chão o que restava do dente
de leão e nos cumprimentou.
O treino
foi ainda pior, como começar a treinar pelo corpo não havia dado certo no
primeiro dia, Rafaela tentou partir para o lado psíquico, sentei na grama,
passava minha mão nervosamente por ela, enquanto Rafaela me encarava, aquilo me
deixava tensa, seus olhos eram penetrantes, ela me disse umas palavras que eu
não entendi, talvez fosse latim, ou talvez fosse japonês, mas eu estivesse
entretida demais em me preocupar e pouco entretida em me concentrar no que ela falava.
Só sei que do
nada uma dor atingiu meu cérebro, não havia vozes, não havia Rafaela, John ou
Mel, apenas o vazio, alguém segurava minha mão, mas isso era impossível porque
eu estava deitada, sozinha, no escuro, com as mãos na cabeça, torcendo para a
dor passar, eu via pessoas, meus pais, minha irmã, meus amigos e monstros que
eu imaginava como meus inimigos, todos eles apenas caminhavam, eu via os
trens... Ah! Os trens! Iam e vinham apressados, qual deles eu devia pegar? Acho
que nunca descobriria.
Estava
conseguindo controlar melhor a dor, ou ela apenas estava passando, eu não
saberia dizer, me levantei e comecei a reparar mais nas pessoas e monstros que
passavam, nenhum tinha um rumo, iam e voltavam, sumiam naquela escuridão, todos
me ignoravam, havia bem no fundo uma luz, era a primeira vez que reparei nela,
brilhava com intensidade, eu não entendia como não me cegava, mas incrivelmente
eu consegui me aproximar, na verdade aquela luz vinha de um pequeno cubo
dourado, tinha coisas escritas, mas eu não conseguia ler. Eu o toquei e ele
bateu na minha mão, como se repreendesse meu gesto.
Aquilo não
era... não podia ser... o centro do mundo? O cisto na minha cabeça era aquele
cubo?! Tentei pega-lo na mão, mas ele me
queimou, soltei-o de imediato, minhas mãos ainda brilhavam, doía, era uma dor
angustiante, caí no chão, lágrimas involuntárias, escorreram pelo meu rosto,
minha mão queimava, muito, a dor na minha cabeça aumentou, é como se meu corpo
estivesse se desfazendo de dentro para fora, eu jurei que iria morrer, eu
cheguei a querer morrer, a morte
acabaria com aquela dor, certo? Isso era tudo que importava.
Abri os
olhos, mesmo sem perceber que os havia fechado, havia uma grama gelada abaixo
de mim, e um sol quente acima, Rafaela estava segurando forte nas minhas mãos,
mas sua expressão deixava claro que ela havia sentido ao menos um pouco da dor
que eu senti, nossas mãos soavam, Mel tinha as mãos pousadas sobre meus ombros
e John me olhava com preocupação.
– O que
você viu? – Rafaela foi a primeira a cortar o silêncio.
– Tudo
escuro, pessoas que eu conheço, pessoas que eu imagino, trens, um cubo, o
centro do mundo... dor, muita, muita, dor. Eu não quero mais sentir essa dor,
nunca, nunca mais – eu tremia, não acho que minhas frases faziam algum sentido,
mas não precisavam.
Mel me
abraçou, mesmo eu estando suada, não havia vestígio de que eu houvesse chorado,
isso era bom.
– Você
estava normal, até que começou a gritar, começou a implorar que lhe matassem,
implorou para a dor parar, eu estava tão preocupada!
Minhas
mãos se soltaram das de Rafaela para eu poder abraçar Mel, meus movimentos eram
lentos, como se eu estivesse reaprendendo a viver sem a dor. Mas antes que
minhas mãos atingissem o objetivo, John as pegou com cuidado, mas com uma
pressa um pouco incômoda. Mel se afastou de imediato e, em poucos segundos,
todos estavam olhando minha mão. Não entendi o porquê até me aproximar, minha
mão tinha sangue seco, como se ela tivesse sangrado muito a algumas horas
atrás, também haviam cicatrizes semifechadas,
mas o pior de tudo é que não eram cicatrizes aleatórias, naqueles traços
irregulares se lia nitidamente em meio ao sangue.
Isso é tudo que eu vou te dar
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